Paulo Morais e o "Mercado"
No último domingo dei com Paulo Morais a conversar em Leiria, por onde passou na sua "cruzada" contra a corrupção.
A conferência, em jeito de conversa, passou-se no pátio do "Mercado de Santana" salvo "in extremis" por um movimento de cidadãos que nos anos setenta saiu em defesa da cidade, da sua memória e da sua urbanidade, contra o assalto da especulação imobiliária. Especulação imobiliária que então começava a alastrar pelas quintas dos arredores, a começar pelo bairro dos Capuchos, ao abrigo da famigerada lei marcelista dos loteamentos urbanos.
O trabalho que aquele grupo de cidadãos realizou e expôs na Praça Rodrigues Lobo que, para o efeito conseguiu que fosse dominío do peão (o que acabou por persistir até hoje) denominava-se, significativamente, "O saque da cidade de Leiria".
Pois não fora esse excepcional movimento de consciência cidadã e o subsequente desfecho do "concurso do imóvel a construir no local onde se situa o mercado de Santana" e Paulo Morais poderia teria feito a sua conferência neste local, mas na sala interior de um trivial edifício comercial multipiso.
A especulação imobiliária é precisamente um dos principais "cavalos de batalha" de Paulo Morais que decidiu dedicar cinco anos da sua vida ao combate à corrupção política com o "antídoto" da "transparência e integridade", denunciando a corrupção e combatendo-a nos tribunais.
Já lá vai um ano e, diz Paulo Morais que emigrará se tudo continuar na mesma daqui a quatro anos, pois é para ele insuportável assistir ao definhar da sua terra por via da corrupção política que hoje campeia em Portugal!
Temo que Paulo Morais, para cumprir a "promessa", tenha que vir a emigrar, pois me questiono se é a corrupção dos políticos que está na raiz do mal que nos faz definhar, no contexto de uma crise que trouxe, segundo Paulo Morais, "a degradação ética nos negócios".
Estou em crer que, na "sociedade de mercado", o "mal" é sistémico, de um sistema dominante que corrompe porque não se rege por leis morais - ironia dos nomes!- uma vez que segue a lógica da eficácia lucrativa, a lógica "do maior ganho monetário realizado principalmente através da inovação" que é a "lógica do capitalismo" segundo um dos seus pensadores: François Perroux.
"O capitalismo usa e corrompe. É um enorme consumidor de seivas cuja ascensão não ordena", prossegue Perroux que conclui: " Os chefes políticos necessitam de raro sangue frio no diagnóstico e de excepcional energia na administração da terapeutica".
Só a instauração de uma democracia autêntica, feita de integros chefes políticos apoiados em cidadãos intervenientes, poderia fazer frente à oligarquia que domina a Grande Banca e as ETN em que hoje se concentra o poder, por via do "darwinismo social" que conduziu a um capitalismo de compadrio (crony capitalism) à escala global.