Reflexões Planetárias

Friday, May 24, 2013

Para onde vamos segundo Tainter

Para Joseph A. Tainter a relação circular entre a complexidade e os recursos é o processo que, por via de "rendimentos marginais decrescentes" (custos crescentes para benefícios decrescentes), levou ao colapso as sociedades complexas do passado: civilizações, como a nossa "sociedade moderna".
Articulo a seguir passagens finais da sua obra "The Collapse of Complex Societies", na língua original para não desvirtuar o sentido numa tradução apressada:

"Past collapses(...) occurred among two kinds of international political situations: isolated, dominant states, and clusters of peer polities. The isolated, dominant state went out with the advent of global travel and communication and what remains now are competitive peer polities.

(...) Peer polities then tend to undergo long periods of upwardly-spiraling competitive costs and downward marginal returns. This is terminated finnaly by domination of one and aquisition of a new energy subsidy (as in Republican Rome and Warring States China), or by "mutual" collapse (as among the Mycenaneans and the Maya).
Collapse, if and when it comes again, will this time be global. No longer can any individual nation collapse. World civilization will desintegrate as a whole. Competitors who evolve as peers collapse in like manner.

In ancient societies the solution to declining marginal returns was to capture a new energy subsidy. In economic systems activated largely by agriculture (...) this was accomplished by territorial expansion.

(...)In an economy that today is activated by energy reserves, and specially in a world that is full, this course is not feasible(...) The capital and technology available must be directed instead toward some new and more abundant source of energy. Technological innovation and increasing produtivity will at some point be essential.

(...)In a sense, the lack of power vaccum and the resulting competitive spiral, have given the world a respite from what otherwise might have been an earlier confrontation with collapse. Here indeed is a paradox: a disastrous condition that all decry, may force us to tolerate a situation of declining marginal returns, long enough to achieve a temporary solution of it. This riprieve must be used rationally to seek for and develop the new energy source(s) that will be necessary to maintain economic well-beeing. This research and development must be an item of the highest priority, even if, as predicted, this requires the reallocation of resources from other economic sectors.

(...) If collapse is not in the immediate future, that is not to say that the industrial standard of living is also reprieved. As marginal returns decline (a process ongoing even now), up to the point where a new energy subsidy is in place, the standard of living that industrial societies have enjoyed will not grow so rapidly, and for some groups and nations may remain static or decline.
The political conflicts that this will cause, coupled with the increasingly easy availability of nuclear weapons, will create a dangerous world situation in the foreseable future."

Vale a pena olhar para o futuro com a experiência do passado pelos olhos de Tainter. A sua visão será porventura redutora, mas parece ajustar-se bem à realidade actual.
Se nos ficarmos por aqui ela é também muito sombria, mas se lermos a sua história até ao fim encontramo-la surpreendemente redentora, pois que o colapso que está no nosso horizonte, tal como no passado, será o fim dum rosário de problemas e o princípio duma solução: no nosso caso, uma alternativa post-industrial.

Thursday, May 23, 2013

"O Capital"

"Le Capital". Este filme de Costa-Gravas evidencia entre outras coisas, como só uma boa obra de ficção o pode fazer, a cruel relação directa entre os despedimentos maciços do layoff e a valorização das acções.
Os ricos apropriam-se assim dos ganhos de produtividade alcançados pelo progresso tecnológico que é um acquis social, seguindo sem rebuço a lógica da eficiência lucrativa, no descabelado capitalismo acionista que cresceu na sociedade de mercado em que vivemos.
Afinal, não mais do que uma transferência maciça de dinheiro do trabalho para o capital, dos pobres para os ricos, ficando uns no desemprego, cada vez mais pobres, desapossados e outros cada vez mais ricos, poderosos. Os gestores que gerem essa transferência com manhosas tacticas, como a da racionalização do trabalho na empresa, são de facto verdadeiros Robin dos Bosques dos ricos. A generalização desta transferência de riqueza faz crescer o fosso entre os ricos e os pobres numa sociedade de mercado autoregulado cada vez mais desigual, como tem vindo a acontecer.
Entendamos este processo (que os cavalos de troia do capitalismo alastraram à função pública), como o de uma guerra social em que temos que tomar partido. Quem apelar para, ou embarcar em políticas de consenso, ou está a enganar tolos ou a ser um tolo enganado.



O filme de Costa-Gravas evidencia, como só uma boa ficção o pode fazer, uma outra coisa: é que ser rico não é ter muito dinheiro; é um affair de status, um estilo de vida aventureiro e luxuoso, encenado na selva urbana distópica da sociedade mercantil.

Monday, May 20, 2013

The new (cyber)war in the making?

"U.S., China cyber battle intensifies"
"Chinese Hackers Resume Attacks on U.S. Targets"


O centro de gravidade do capitalismo está a deslocar-se para oriente. Na Republica Popular da China as ETN conjugam-se com o Estado que parece não se subordinar a elas como nas democracias representativas ocidentais. São dois modelos em confronto e a guerra faz-se por meios proporcionados pelo progresso tecnológico: a "cyberwar" está nas nossas barbas, e nós já estamos metidos nelas através dos Googles e Facebooks. Mas não vemos pois estamos formatados para guerras passadas.

Para onde vamos? Extremando os pontos de vista sobre este processo:
Para os "optimistas", é o grande camaleão do capitalismo que se difunde impante, por todo o mundo e, com ele se globaliza a "nossa" civilização moderna.
Para os "críticos" é a máquina moderna que avança desenfreada, numa espécie de "regulação em tendência": a desmultiplicação dos conflitos sociais e ambientais poderá conduzir a um colapso civilizacional que desta vez será global.
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ap photo publicada aqui

Saturday, May 18, 2013

Mais uma crise do capitalismo?

Para os "materialistas", a saúde dos povos mede-se pelo crescimento económico, plasmado no crescimento do PIB. Apesar de misturar benefícios e custos do progresso, o crescimento de PIB manteve-se anémico na Europa e nos Estados Unidos, ao longo do primeiro lustre do século xxi, escavado a meio pela fuga de capitais para a especulação financeira. Indo por eles, os povos ocidentais estão doentes.


O que nos adoeceu? Dizem uns que foi a desastrosa deriva e depois o resgate público dos grandes bancos privados "demasiadamente grandes para falir". Dizem outros que são as ETN que, com a cumplicidade das instituições políticas, fogem aos impostos e voam para Oriente na busca de maiores lucros financeiros, deixando-nos no desemprego, agravado pelo desemprego tecnológico. Acrescentam outros que com isso ficou a oferta sem procura paralizando o crecimento económico...
Enfim, as ETN voam para Oriente, mas na China que agora se volta a fechar sobre si própria, o crescimento do PIB deixou os dois dígitos e, dizem os entendidos que não voltará lá tão cedo...
E a Ocidente como a Oriente o capitalismo de mercado encontra-se a braços com a crise energética e espalha a devastação moral e ambiental por toda a parte!
Mais uma crise do capitalismo?
Há quarenta anos, Ivan Illich antecipava uma resposta que faz eco nos dias de hoje:
"Seria um puro acto de geomancia antecipar a série de acontecimentos que poderão desempenhar o papel catalizador que teve o crash de Wall Street da, não apenas na, primeira crise da sociedade industrial. Mas seria insensato não esperar que, num futuro próximo, algo venha a provocar a paralização do crescimento industrial."
...
"Querendo antecipar os efeitos, deveremos procurar antever a mudança súbita que poderá levar ao poder grupos sociais até ao momento submissos. A calamidade em si não cria esses grupos e muito menos os faz emergir, mas a calamidade enfraquece o poder dominante que os tinha excluído da participação no processo social. É o efeito de surpresa que enfraquece o controlo, abala os mandantes instalados e faz vir acima toda a gente que não se desgovernou."
"Uma vez enfraquecido o controlo, os que se acostumaram a mandar têm que procurar novos aliados. No estado industrial enfraquecido da Grande Depressão, o establishement não podia passar sem trabalhadores organizados, pelo que estes obtiveram a sua parte do poder dentro do sistema."
Algo de semelhante poderá vir agora a acontecer... se entretanto os trabalhadores não vierem a ser dispensáveis, com a automação do trabalho e a vigilância electrónica, possibilitados pelo progresso tecnológico, a abrirem caminho ao "fascismo tecnoburocrático" da "Grande Organização" que são recorrentes nas estratosféricas distopias da ficção científica.
Para Illich, o desfecho dessa crise iminente do capitalismo, dependerá do "aparecimento de elites impossiveis de recuperar pelo sistema."