Reflexões Planetárias

Thursday, June 11, 2009

Responder de bicicleta

Joana, em directo de Londres, no meio da confusão criada pela greve do tube:
"Hj estah a maior confusao aki por causa da greve do metro!
Eu vim d bicicleta para o trabalho estes dois dias e foi o k m safou :-)
mas o transito eh um caos, xeio d bicicletas, carros e pessoas a andarem a peh.
O mayor abriu um parke d bicicletas em trafalgar square para estes dois dias. Vigiado. Assim pude lah deixar a minha bicicleta sem medo d ser roubada.
:-)
Devia ser sempre assim!
Tava xeinho d bicicletas!!!
Eu axo k pela adesao foi mm uma alternativa séria. Eles estavam a recomendar as pessoas para virem d bicicletas nestes dias e tb vi umas pessoas a irem para o trabalho a correr em roupa d jogging :-)
Esta manha eu tentei apanhar o metro, fui ateh shpherds bush pk ouvi dizer k algumas linhas funcionavam xeguei la.
Tava fechado!
Fui ah paragem d autocarro, tava uma fila enorme.
Olhei para dentro dos autocarros e vi as pessoas todas sborrachadas contra a porta
:-/
Entao voltei para casa, peguei na bicicleta e vim :-)
Parece me uma boa ideia para combater o trafego!
Especialmente agora no verao deviam fazer o mm em Lisboa :-)"

Os grupos organizados de ciclistas respondem imediatamente! A ideia do Byketube é um achado e está em marcha!


A administração pública também responde apoiando as bikes! Palavras do chefe executivo Koy Thomson: "We'll do everything we can to ensure this surge in cycling becomes permanent, including organising more BikeTubes, even when there's no disruption."

Londres é uma cidade plana, mas o trânsito motorizado é muito "stressante". Com esta dinâmica organizada poderá vir a ser mais amigável para quem quer andar de bicicleta não só por desporto mas também como modo de transporte.

Um exemplo para nós, aqui em Portugal. Um exemplo de participação e de convivência urbana.

Sunday, June 07, 2009

Um simples muro de tijolo...

Uma manhã fria de Inverno. O sol não chega para compensar o vento cortante que sopra de norte.
No terreno descampado, apenas um muro, um simples muro de tijolo. Mas, na sua escassa área de influência, o nosso pequeno muro divide o terreno em dois, criando um contraste sensível entre o lado norte, em que acentua a agressividade do clima e o lado sul que pelo contrário o adoça. Quedo-me pelo lado sul, encostado ao muro, gozando o sol, abrigado do vento cortante que sopra de norte.

Uma cálida tarde de Verão. A brisa de norte não chega para compensar o sol que começa a declinar.
O mesmo terreno. O mesmo muro simples de tijolo divide o terreno em dois, criando um sensível contraste entre o lado norte em sombra e o sul ensolarado.
Desta vez escolho o lado norte, gozando a brisa fresca, protegido do sol.
Um muro, um simples muro de tijolo... um traço na paisagem que não chega a criar um espaço interior separado do exterior, interfere no clima criando microclimas!

Se não deixarmos essa interferência ao acaso, um edifício, um espaço edificado, pode aproveitar condições climáticas favoráveis e defender-nos de condições adversas, contribuindo para o nosso bem estar.

Friday, June 05, 2009

O "factor humano"

Lucrativa ha um ano, a Toyota apontava para um défice de 3.4 milhões de euros no ano fiscal que terminou em Março passado (Mundo Diplomático, Abril 2009).
Paira sobre todos os que vivem do seu trabalho o espectro do desemprego, envolto na atmosfera de insegurança e incerteza acentuada pela recessão económica.

Grandes empresas como esta que vêm da era industrial, fazem das tripas coração para flutuar no mar fluído da globalização capitalista que hoje nos envolve e em que os volúveis mercados financeiros (des)regulam uma economia que vai perdendo as suas raízes locais.

Mas em última análise quem paga são os trabalhadores, a constelação de PME´s, a vida de cidades inteiras que cresceram com elas. Uma dessas cidades é Koromo, Toyota City desde 1951.

Não é irrelevante que o progresso industrial esteja sintonizado com a mecânica e a termodinâmica clássicas e que a sociedade em rede do capitalismo global o esteja com a "nova ciência" em que preponderam os sistemas afastados do equilíbrio.

Graças ás novas tecnologias, a sociedade industrial transita para uma sociedade da informação, em que o segmento intermédio da hierarquia piramidal, comum a todas as grandes civilizações do passado, é substituido pela rede informática que veicula uma fluída regulação impessoal.

Neste novo contexto, sinto pessoalmente como Richard Sennett que não conseguimos fazer uma profissão, ter uma carreira profissional, sentimo-nos descartáveis ou mesmo inúteis e, as comunidades locais, os estados-nação e instituições como os velhos sindicatos não se reorganizaram para resistir à corrosão do mercado globalizado.

Sobre o abuso e a moderação

Nos sistemas complexos como o nosso, a realimentação positiva constitui uma (des)regulação em tendência que se traduz num comportamento abusivo ou excessivo.

O dinheiro é util mas não o seu endeusamento moneteísta,
o capital também, mas não o aviltante abuso capitalista,
a máquina, mas não o "maquinismo",
a invidualidade é desejável mas não o individualismo desintegrador,
a colectividade, mas não o colectivismo esmagador,
a razão, mas não o racionalismo,
o sentimento, mas não o sentimentalismo,
a visão, mas não o visualismo,
a bondade, mas não o angelismo,
a comunidade e não o comunismo,
a sociedade e não o socialismo,
a integração e não o integralismo,
a natureza e não o naturalismo,
o controlo e não a dominação,
o consumo e não o consumismo...
e por aí adiante.

Fora com os "ismos"! "O que é demais é moléstia"!
A diferença entre o remédio e a cura está na dose.
Ronald Wright conclui a sua "breve historia do progresso" identificando a reforma de que precisamos com a transição da agitação e do excesso para a moderação. A aurea mediocritas ?

Da soliditas à sustentabilidade

No tempo de Vitruvio a arquitectura era uma forma de adaptação do meio a um status-quo que era preciso manter, quer ao nivel social quer ao nivel individual (utilitas e venustas).
Meio físico regulado por leis universais imutáveis (soliditas).

O meio ambiente subjacente à sustentabilidade de que hoje se fala, transcende esta concepção mecanicista. Não se trata agora de respeitar um meio físico redutível a determinadas leis geométricas e físicas como a lei da gravidade, mas de considerar a interferência num meio ambiente vivo em que estas leis são enquadradas em processos de regulação biofísicos.

Na acepção estática da soliditas, a sustentabilidade identificava-se com a sustentação física da construção, com a manutenção da sua estabilidade, com a durabilidade, a resistência ás forças da natureza, para servir os nossos designios ideais (utilitas e venustas).

O actual conceito de sustentabilidade enquadra a resistência física no conceito de resiliência: a resistência sustentada à adversidade do meio ambiente, a qual pode ser agravada pela nossa interferência na dinâmica do seu equilibrio biofísico.

A sustentabilidade pode ser aplicada em qualquer "ponto" do nosso sistema de vida, a seja o que for que nele participe.
Tudo se integrando em ecosistemas e estes na biosfera terrestre, temos a sustentabilidade ao nivel individual e social, da nossa sociedade e do seu sistema económico, bem como ao nivel dos ecossistemas, abrangendo as nossas relações com o meio em que vivemos.

A introdução deste conceito de sustentabilidade na arquitectura leva-nos a substituir o triângulo vitruviano por um tetraedro cujos vértices são a soliditas, a utilitas, a venustas ou "princípio arbitrário" e a sustentabilidade ( a restitutas na designação do "A green Vitruvius"). As arestas simbolizam relações, influências, interações entre as "propriedades" que representamos nos vértices (por exemplo, segundo Vitruvio o "princípio positivo" conjuga soliditas e utilitas).
As faces representam relações triangulares das propriedades três a três e o sólido a unidade do todo, a integração total que é mais do que a soma das partes.
Poderemos realçar a importância ôntica da sustentabilidade, colocando-a no vértice da pirâmide cuja base é o triângulo vitruviano.