Vítor Gaspar é a peça-chave do governo.
Profissional de segunda linha, vaticinou entre outras coisas o maior sucesso para o euro, afivelando uma explícita imparcialidade técnica.
As suas convicções económicas, funções no BCE e ligações políticas a Cavaco Silva e Durão Barroso, dizem o fundamental sobre o que podemos esperar nos próximos tempos: a desinibida aplicação da doutrina maquinada na "Escola de Chicago", seguida pelo FMI nos paises do terceiro mundo e agora na Europa (
Michel Chossudovsky, 2003) em conluio com o BCE e a Alemanha, começando nos países mais vulneráveis à crise gerada pela desregrada especulação financeira: Irlanda, Grécia e Portugal.
Esta doutrina que teve em
Milton Friedman um dos seus arautos mais mediáticos, repõe a ordem social na "mão invisível do mercado", impedindo a génese de um projecto colectivo mobilizador.
Pelo contrário, ela consagra a luta de interesses particulares em nome de uma liberdade económica que já não existe, por efeito da concentração do poder resultante do darwinismo social que promoveu nos últimos 30 anos de capitalismo sem travões.
Um "laissez faire" anacrónico e perigoso.
Anacrónico, pois não vivemos hoje sob o jugo dos regimes autoritários que horrorizaram os refugiados da escola económica austríaca como Friedrich Hayek.
Perigoso, pois a corrosão social que promove, poderá favorecer a eclosão de um novo autoritarismo, ao arrepio da sua fixação ideologica liberal.
Só o abandono do "laissez faire" permitirá a génese de um projecto colectivo participado e, nesse sentido, a reabilitação do planeamento e do Estado-Nação como expressão genuinamente democrática de uma comunidade feita de homens livres e responsáveis, dispostos aos maiores sacrificios pelo bem comum.
Confrontados com a desastrosa
hesitação dos dirigentes europeus, é neste contexto que situamos a resolução do problema da dívida, "sobreana" para uns, insustentável, ilegal, ilegítima ou mesmo "odiosa" para outros.
Mas, quem poderá protagonizar esta mudança?
Para já não vejo ninguém! A classe média a que pertenço vejo-a como uma maioria silenciosa dividida entre o temor e a esperança no salvador. Os "trabalhadores" estão na espectativa. Novas são as manifestações dos jovens que não se foram embora. Porventura diferentes das "ideológicas" manifestações de sessenta: as nossas "Manifestações académicas" e as de "Maio de 68". Diferentes, não só nas novas tecnologias. É uma "geração à rasca" na hora de entrar no mercado de trabalho.
Para já não passam disso mesmo: Manifestações. Manifestações não estruturadas e inconsequentes.
Mas ainda a procissão vai no adro!
Comentários adicionais sobre o elenco governativo:
-O gestor Paulo Macedo na Saúde indicia seguramente a racionalização do sector e provavelmente, conjugado com Vitor Gaspar, a privatização dos serviços de saúde.
-A concentração da agricultura, do ordenamento do território e do ambiente nas mãos da jovem Assunção Cristas deixou-me siderado! Profissionais experientes e sábios da estatura de Sevinate Pinto ou de Ribeiro Teles condensados na pessoa de uma jovem formada em direito! Não me esqueço do episódio menor mas significativo em que, no rescaldo da "crise dos subprime", Assunção Cristas saltou em defesa dos bancos como uma espécie de legião da boa vontade apostada em ajudar as pessoas a comprar a sua casinha! Verdadeiro ou falso angelismo?
O papel de Assunção Cristas adiante se verá, pois que a substancia parece remeter-se para os secretários de estado. E já se sabe quais são. Um retrato "fotomaton"
seguindo a notícia do Público. No Mar temos um técnico com um curriculum que merece atenção! Na Agricultura, configura-se um tecnocrata que tem um modelo para Portugal: a Nova Zelândia! No desenvolvimento rural com Campelo, a guerra da regionalização e... a defesa do distrito de Viana do Castelo! No ambiente, pelo curriculum do novo secretário parece que teremos mesmo ... a privatização da água! A coisa está preta!
-Nuno Crato no Ministério da Educação e Ensino Superior!
Está agora à prova a ideia de um "Ministério
para a Educação" que Nuno Crato
expôs com veemente clareza em 2009 no Forum do PSD "Portugal de Verdade". Adivinham-se neste domínio tempos interessantes.
Fonte da imagem:
http://xatoo.blogspot.com/2011/06/um-governo-da-opus-dei.html