Tem prevalecido na União Europeia uma perspectiva sectorial especializada, predominantemente economicista, hoje monopolizada pela crise financeira na óptica dos "mercados".
Esta perspectiva redutora afigura-se em parte responsável não só pela própria crise financeira, mas também pela erosão social e pelo agravamento da crise ambiental que aliás mutuamente se reforçam.
Têm sido marginalizados quer o ordenamento do território quer o pensamento sistémico e, com eles, a capacidade de ligar o que está desligado e corrigir as inconsistências sociais e ecológicas da abordagem sectorial.
A "European Spatial Planning Observation Network" (ESPON) tem vindo a realizar um trabalho nesse sentido que não tem tido a merecida divulgação. O "draft"
Climate Change and Territorial Effects on Regions and Local Economies, publicado no ano passado mostra a estreita interdependência entre a (falta de) coesão social e a vulnerabilidade ambiental (1) face aos possíveis efeitos regionais das alterações climáticas na Europa.
Depois de mapear os impactes potenciais das alterações climáticas, o estudo da ESPON chega a um "mapa de vulnerabilidades potenciais" detalhado ao nível das NUTS III, adoptando um cenário moderado , selecionado entre os seis "cenários de emissões" desenvolvidos pelo IPCC:
o cenário A1B.
Neste mapa de vulnerabilidades, as cores mais carregadas assinalam as regiões mais vulneráveis, havendo a considerar evidentemente as incertezas e possíveis imperfeições do modelo e do método adoptados.
É visivelmente evidente que as regiões do sul da Europa, em que Portugal se inclui, estão mais vulneráveis do que as do norte. Essa vulnerabilidade combina no geral uma maior exposição, uma maior sensibilidade e uma menor capacidade de adaptação.
Há aqui uma desigual distribuição de causas e efeitos, estando os países do norte mais do lado das causas e nós, do sul, mais do lado dos efeitos.
O estudo conclui pela necessidade de uma Europa solidária com vista a uma ajustada utilização dos meios para a mitigação e adaptação em relação ás alterações climáticas (2).
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(1) Considere-se a
vulnerabilidade potencial de uma região face ás alterações climáticas, função dos
impactes potenciais e da sua
capacidade de adaptação. O
impactes resultam do efeito combinado da
exposição e da
sensibildade de uma região aos efeitos das alterações climáticas. Por exemplo, regiões costeiras a escassos metros da "linha da máxima preia-mar de águas vivas" estão mais
expostas à subida das águas do mar do que as de maior altitude. Regiões urbanizadas muito mecanizadas são mais
sensíveis do que regiões menos dependentes de sistemas energéticos. Regiões mais jovens e desenvolvidas podem ter maior
capacidade de adaptação do que regiões mais pobres ou envelhecidas.
(2) O estudo centra-se nas alterações climáticas. Mas há outras ameaças que nos vêm do interior da terra e do exterior, como sejam a queda de meteoritos, raios cósmicos e outras radiações provenientes da actividade solar, com
impactes potenciais nas regiões europeias muito urbanizadas e mecanizadas, remetendo para uma
capacidade de adaptação que põe à prova a capacidade tecnológica e, sobretudo, a solidariedade europeia!