Senhor Vitor Gaspar
Senhor Vitor Gaspar, se temos enormes constrangimentos e sacrifícios pela frente por muitos anos, então queremos ser nós(1) a assumi-los, em função do que pensamos ser as nossas necessidades, os nossos anseios, os nossos desejos.
Não queremos os vossos constrangimentos, em função dos vossos interesses ou de quem manda em vós, que não sejamos nós que vos elegemos.
Pusemo-los aí para nos servirem e não para servirem grandes grupos económicos e interesses rentistas, com o pretexto de que não há alternativa e que, servindo-os nos servem a nós. Quanto muito, eles pagaram as vossas eleições.
Mas isso é lógica mercantil, não é razão democrática.
O vosso compromisso democrático é conosco e não com credores que trataremos como entendermos, assumindo dignamente o ónus das consequências. Os custos, acabamos nós por pagá-los em qualquer caso. Não os senhores.
Portanto, se somos nós que os pagamos, cabe-nos a nós decidir sobre o que é devido e nos cabe pagar, através de um governo mandatado para o fazer, com a legitimidade democrática que os senhores perderam, faltando dia a dia aos vossos compromissos eleitorais.
A vossa acção destrutiva compara-se à de um furacão tropical. O olho deste furacão devastador é o senhor, Vitor Gaspar, afinal um técnico que deveria estar ao nosso serviço. A técnica serve a sociedade, não é a sociedade que serve a técnica. A técnica contabilística, como outra qualquer, serve sempre alguém e no seu caso, senhor Vitor Gaspar, governante de um estado democrático, deveria servir-nos a nós e o senhor e o seu governo - o pobre senhor dos Passos Coelho é uma figura de retórica, um "pi linha" - não nos servem.
Por isso queremos que se vão embora!
Observação: Esta óptica do democrata que personifica em Vitor Gaspar a "origem do mal", expõe-se ao ridículo, se se entender que "Gaspar" não é a "origem do mal", mas apenas uma roda dentada (de dentes bem afiados!) da engrenagem, do "sistema de mercado" dominante, exatamente como qualquer diligente "SS" era peça da máquina de poder nazi, em que a modernidade expôs o seu lado desumano.
Á sua remoção seguir-se-à a sua substituição por outro "Gaspar", enquanto este poder se mantiver hegemónico na mente de (quase) todos nós, usando os "truques fantásticos" disponibilizados pelo progresso científico-tecnológico ao seu serviço.
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(1) Quem somos "nós"? Um ser colectivo, activo e não passivo. Somos "nós", enquanto nos afirmamos contra uma minoria que se quer governar à nossa custa. Esses somos "nós", com todas as nossas virtudes e os nossos defeitos, as nossas convergências e os nossos conflitos, com o nosso passado que não enjeitamos e o futuro que queremos construir em comum.